das coisas mais lindas que um gato pode fazer (e, como gateira, devo admitir que essa lista é imensa pois achamos tudo que gatos fazem incrível genial espetacular etc), acho que a minha preferida é quando eles suspiram.
tá ali seu felis silvestris catus descansando na paz de quem não tem um boleto a pagar e, subitamente, como se sentisse o peso da existência sobre si, ele solta um suspiro.
ok, pode ser uma questão biológica, pode ser uma imitação pela convivência com seus guardiões humanos, mas o fato é: os gatos (e outros animais) também suspiram.
nas minhas pesquisas li que, segundo o neurocientista jack feldman, o suspiro é um reflexo crucial que mantém nossos pulmões saudáveis e acontece mais frequentemente do que a gente pensa – cerca de uma vez a cada cinco minutos (!). mas não deixa de ser estranho ver um animal suspirando porque, para além dessa necessidade fisiológica, associamos o ato de suspirar a tantas situações da nossa vida cotidiana – sonhar acordado, cansaço, almejar algo e sentir sua frustração, lembrança de algo que já passou.
se pararmos pra pensar, o suspiro está presente na literatura de tantas formas diferentes quanto podemos imaginar, mas seu ato tem um quê de nostalgia. o médico e poeta brasileiro gonçalves de magalhães nomeou seu livro, considerado a obra inaugural do romantismo no brasil (em 1836), de "suspiros poéticos e saudades". só quero suspirar / gemer só quero / e um cântico formar co'meus suspiros, ele escreve. nas poesias de carlos drummond de andrade, o ato erótico é tido como o mais íntimo suspiro (e o corpo feminino, esse retiro…).
não vou me alongar muito nas referências ou ficaríamos aqui por uma eternidade, mas gosto desse status meio abstrato e meio dual do suspiro. suspiramos de prazer, mas também de tristeza. de desejo, mas também de frustração. de vontade, mas também de cansaço. de lembrança, mas também da memória.
pra mim, o suspiro está no limiar entre todas essas coisas. é a respiração que preenche justamente as lacunas entre o x e o y. é, antes de tudo, uma pausa.
aquele momento de recuperar o fôlego antes de seguir em frente na caminhada.
não sei como terminar esse texto senão com um suspiro, então deixo aqui um trecho da poesia noturno, de cecília meireles, escritora que amo desde pequenininha e que sempre me acompanha nos momentos de turbulência e de pausa.
suspiro do vento,
lágrima do mar,
este tormento
ainda pode acabar?
[...]
suspiro do vento,
lágrima do mar,
meu pensamento
não sabe matar!
ainda é meio surreal escrever essas palavras mas, esse ano, dois filmes meus vão sair do forno: o documentário menarca e o curta-metragem (auto)ficcional 56 dias. no momento, os dois já estão em etapa de montagem. tô animada pra seguir a construção deles nessa fase e, assim que tiver novidades sobre lançamentos e exibições, compartilho por aqui <3
por ora, deixo aqui uma fotinha da equipe que esteve comigo nessa última aventura que foi a gravação de 56 dias:
curiosidade: de todos os artistas que vi no carnaval de salvador (e foram muitos), vandal foi o único que se posicionou a favor dos cordeiros e ambulantes e contra as situações absurdas impostas a eles no dito maior carnaval do mundo, além de abrir espaço de fala pra galera da ocupação carlos marighella. sempre bom reparar em quem tá usando as plataformas que tem pra amplificar as vozes e os assuntos que importam.
conheci um joguinho online que amei, chamado wikitrivia, e é assim: ele te mostra eventos da história da humanidade retirados da wikipedia e você tem que colocar em ordem cronológica – e só pode errar até 3x por partida. perdi muitos minutos jogando ele, sério.
falando em joguinho online, lembram da época do isolamento que a gente jogava termo todo dia? pois o figure tem um princípio parecido com esse de uma partida por dia, mas ele é tipo um quebra-cabeça visual.
se sentindo nostálgico? o my 90's tv tem um simulador de televisão dos anos 90 (e outras décadas também), com direito a chiado estático, desenhos animados, programas de notícias da época e tudo.
sabem aquelas imagens captadas pelo carro do google maps que viralizam porque tem situações totalmente aleatórias e inusitadas? o wonders of street view é uma coleção dessas imagens. vai desde o chewbacca assistindo uma partida de sinuca até uma coleção de pandas de cerâmica à bordo de um ferry. juro.