o prefixo "ori", da palavra japonesa origami, significa "dobrar". dobrar o papel é transformá-lo de um estado para outro – de um elemento plano a incontáveis possibilidades de dobradura, mas o papel também pode ser preenchido, colorido, pintado, esculpido.
falar não é tão diferente assim de fazer origami. a gente também dobra a palavra. passa ela a limpo. divide, multiplica, enrola, estica.
falar exige também que a gente dobre a língua, que a gente encontre maneiras de expressar o que pensamos, mesmo sabendo que nunca conseguiremos, de fato, nos expressar de forma fidedigna como nos sentimos. pra gente se comunicar, é preciso uma parte querer falar e a outra ouvir. uma parte querer explicar e a outra querer compreender. falar exige tentativa e erro.
quantas formas existem de falarmos a mesma coisa? em quantas línguas podemos dizer a mesma coisa? li outro dia que atualmente existem 7,151 línguas faladas no mundo. 40% delas correm o risco de se perderem para sempre – isso sem contar todas as línguas que já perdemos com a colonização.
existem infinitas formas de falarmos, mas também existem infinitas formas de nos calarmos.
o que acontece quando deixamos de dobrar a língua?
quando engolimos sapos, eles passam a habitar dentro da gente? qual o impacto que as palavras engolidas, amassadas, retorcidas, abafadas tem na nossa saúde?
eu gosto muito de um poema de viviane mosé que diz assim:
A maioria das doenças que as pessoas têm são poemas presos
Abscessos, tumores, nódulos, pedras…
São palavras calcificadas, poemas sem vazão.
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado, prisão de ventre…
Poderiam um dia ter sido poema, mas não.
Pessoas adoecem da razão, de gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida, escorrendo em estado de lágrima.
Lágrima é dor derretida, dor endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida, raiva endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida, alegria endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida, pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor, tempo derretido é poema.
o ato de falar não é tão diferente de dobrar, mas também pode ser parecido com transbordar. pode ser tão bom quanto assustador sentir o movimento que escoa e nos deixar levar pela onda que levanta de dentro.
eu e meu sobrinho estamos viciados em um jogo chamado spiritfarer. a gente joga como stella, uma barqueira de um mundo fantástico e guia dos espíritos que passam por ali. você tem missões relacionadas ao mapa do mundo e ao barco, mas sua principal missão é fazer amizade com espíritos e ajudar eles a seguirem adiante depois da morte. além da história ser muito fofa, é muito divertido.
conexo, termo, dueto, wordle… tá, eu sei que esses jogos online já são bem conhecidos, mas cês sabiam que tem um jogo de adivinhação musical diário também? chama musicle, tem diversas categorias diferentes e tenho amado jogar ele de vez em quando.
estou acompanhando a história de charlotte, uma arraia que engravidou – aparentemente através de uma reprodução assexuada – num aquário nos estados unidos que ela compartilha apenas com tubarões. ainda que os filhotes não sejam híbridos da arraia com os tubarões, como foi inicialmente teorizado, estou ansiosa pra resolução da história com ela parindo esses bebês que serão raríssimos de qualquer forma, já que esse processo de partenogênese é incomum.
e vocês? o que tem acompanhado por aí? estão viciados em algum jogo ou música ou série?
adorei os links dessa edição! chocada com a história da arraia e me divertindo com o musicle hhahah